BPC prevê dispensa de 2.000 pessoas e afastada a privatização do banco

 O estatal Banco de Poupança e Crédito (BPC) angolano prevê dispensar até junho mais 1.347 colaboradores, atingindo um total de dois mil dispensados, de modo a impedir o fecho da instituição, que enfrenta uma crise de receitas.


Num encontro hoje com a imprensa em que foi abordado o ponto de situação do Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR) do BPC, o administrador Cláudio Pinheiro realçou que reduzir o número de funcionários permitiu salvar 3.100 empregos ao invés de se encerrar o banco.


"O grande desafio das administrações anteriores e da atual e dos acionistas é criar um efeito muito maior a nível social, que dispensar 5.200, se fechasse o banco", frisou.


Segundo Cláudio Pinheiro, as medidas que estão a ser implementadas no âmbito do PRR, entre as quais o encerramento de unidades de negócios (agências e centros de empresas), visaram mitigar o seu efeito social.


Para o processo de dispensa de colaboradores, explicou o diretor de Capital Humano do BPC, Alfredo Monteiro, foi traçada uma estratégia para acelerar a sua rápida inserção no mercado de trabalho.


"O conselho de administração optou por medidas consensuais ao invés de iniciar diretamente pelo despedimento dos colaboradores, tendo dado início às medidas de rescisão por mútuo acordo e depois às medidas de reformas antecipadas", disse.


Para os funcionários dispensados por comum acordo, o banco vai também disponibilizar um complemento de apoio ao desemprego, uma espécie de fundo de desemprego, o equivalente a uma compensação adicional financeira de 25% adicional à remuneração que o colaborador é remunerado, em torno do que seriam as suas indemnizações.


Adicionalmente, este grupo vai beneficiar de perdão de créditos feitos no banco, de créditos para o início da atividade económica, a possibilidade de fazerem reestruturação do crédito que têm em sua responsabilidade e formação em gestão de negócios para os que queiram desenvolver uma atividade económica.


"O banco vai continuar a disponibilizar os serviços de saúde por um período de seis meses para os colaboradores que optam por fazer a rescisão por mútuo acordo", disse.


Relativamente ao plano de saídas induzidas, foram definidas quatro vias, a primeira o encerramento de agências a encerrar, depois de avaliados o custo operacional e de manutenção, indicadores de performance comercial, da atividade e da rentabilidade de cada unidade de estrutura face àquilo que tem como receitas e a sua localização geográfica.


O banco olhou igualmente para os serviços fora do core business, nomeadamente limpeza, manutenção e segurança, serviços a serem terceirizados com algumas empresas, o abandono de trabalho e os colaboradores com critério de seleção para o futuro, "sendo este o que requer uma atenção mais cuidadosa", estando previsto para estes fatores de avaliação, antiguidade, habilitações literárias e histórico disciplinar.


"Ao longo deste processo, complexo, mas vital para a sobrevivência do banco, teremos realizado a otimização da nossa estrutura de pessoal em cerca de 2.103 pessoas. Para este ano, estão previstas a otimização de força de trabalho em cerca de 1.347 colaboradores, através das iniciativas apresentadas", destacou.

O banco prevê desde que iniciou o PRR que esse processo tenha um custo de cerca de 18 mil milhões de kwanzas (24 milhões de euros), dos quais 4.1 mil milhões (5,8 milhões de euros) de indemnizações só este ano.


"Dar nota que, depois desse processo, prevemos uma poupança anual estimada em cerca de oito mil milhões de kwanzas (10,7 milhões de euros), com os custos diretos e indiretos, com a dispensa dos nossos colaboradores, que são afetados por esta medida", indicou Fábio Santos, coordenador do PRR.


Com o encerramento de centenas de unidades de negócios, o banco terá uma poupança anual só em arrendamento destas estruturas, no final deste processo, de cerca de 520 milhões de kwanzas (696 mil euros).


Por sua vez, o administrador Victor Cardoso frisou que o banco não gerava receitas suficientes para pagar a generalidade dos seus custos e perante este cenário "foi necessário tomar decisões corajosas".


"O banco tem uma estrutura muito pesada, não gera receitas suficientes para cobrir os seus custos, muito devido à qualidade dos seus ativos, mas também devido à estrutura pesada de custos que o banco tem", referiu, ilustrando que, em 2018, o banco tinha mais 5.000 trabalhadores, número que os dois bancos principais do mercado bancário juntos não têm.


Para Victor Cardoso, a dispensa dos colaboradores é "algo incontornável".


"Infelizmente, por mais que nos custe, mas é algo que temos que ter coragem para um bem maior, que é a permanência da organização", sublinhou.


Afastada de momento privatização do banco 


O administrador do Banco de Poupança e Crédito (BPC), Victor Cardoso, descartou hoje a possibilidade, por agora, de uma privatização do maior banco público angolano, perante as dificuldades que apresenta.


"Privatização isto é um assunto que diz respeito, somente, aos acionistas. Se o banco estaria em condições de ser atrativo para o investidor colocar dinheiro no banco, realisticamente eu diria que temos que embelezar essa noiva primeiro para ir a casamento e é o que nós estamos a fazer", disse Victor Cardoso, num encontro realizado hoje com a imprensa para abordar o ponto de situação do Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR) do BPC.


Victor Cardoso, que apresentou indicadores do banco, referiu que banco foi recapitalizado com 591 mil milhões de kwanzas (790 milhões de euros), garantida quase que exclusivamente por títulos de tesouro, alguns não indexados, tendo a capitalização em numerário sido de apenas 15 mil milhões de kwanzas (20 milhões de euros), garantido pelo novo acionista, o Instituto de Gestão de Ativos do Estado (IGAP, com 37,3% de participação).


O Plano de Recapitalização e Reestruturação (PRR) será implementado nos próximos três anos e prevê que serão necessários 880,1 mil milhões de kwanzas (1,3 mil milhões de euros) para capitalizar o banco, deste montante 163,7 mil milhões são do seu maior acionista o Ministério das Finanças, sob forma de títulos, enquanto o IGAPE injetou 396 mil milhões em títulos e 15 mil milhões em numerário.


Segundo o administrador, o banco detém nesta altura 13 participações financeiras, depois de um diagnóstico da situação e somente cinco é que apresentam alguma viabilidade, "tudo o resto são empresas que umas nem saíram do papel, outras não têm qualquer atividade económica, encontram-se em situação de falência técnica e outras até já declararam falência".


"Daquelas participações que têm alguma viabilidade, destacamos a Mundial Seguros, em que o banco tem 70% da empresa, também uma participação de 10% na CREP, uma empresa de exploração petrolífera, na qual tem dois tipos de exposição - acionista e credor - aqui estamos a preparar o processo de alienação em bolsa, em leilão", indicou.


Relativamente à BPC imobiliária, Victor Cardoso considerou delicada a sua situação, necessitando de uma injeção de capital "muito grande", sendo a opção a liquidação de ativos da sociedade.


"A empresa não tem autonomia financeira, alguns custos são suportados pelo próprio banco", disse.


O administrador informou que o banco tem igualmente um plano de alienação de imóveis, acumulados ao longo da sua existência para suportar a atividade bancária e para atender as necessidades dos trabalhadores.


"O que é certo é que o banco tem muitos ativos imobiliários e a própria BPC Imobiliária, fizemos um plano de alienação de imóveis e dentro dos próximos dias esperamos materializá-lo com a venda dos primeiros 40 imóveis, via leilão online, e para dinamizarmos esse processo o banco nalguns casos estará disponível para conceder crédito à habitação", explicou.

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