A FILDA: Críticas à gestão e dúvidas sobre a transparência
A 35ª edição da Feira Internacional de Luanda (Filda)
ainda não foi a feira pretendida pelo Presidente da República. Algumas semanas
antes, João Lourenço criticou o modelo das feiras internacionais realizadas em
Angola, defendendo a “necessidade de as feiras passarem a ser uma oportunidade
para se mostrar mais o que se produz, contrariamente ao que tem acontecido, em
que os produtos de exportação têm maior destaque”.
“Esta ainda não foi a feira ideal, mas foi a melhor de
todos os tempos”, garante, entretanto, Bruno Albernaz, CEO da Arena Direct,
empresa promotora do evento, acrescentando que “as coisas ainda não estão a
acontecer como se pretende quanto à produção nacional”. As empresas nacionais
apresentaram-se com poucas opções para a exportação. Uma das excepções foi o
nafta, um derivado de petróleo cujo execesso o país pode exportar, por causa da
reduzida capacidade de absorção do produto pela refinaria de Luanda.
“Mas,
com o previsto aumento da capacidade da produção de gasolina e gasóleo (de três
milhões de toneladas métricas para 12 milhões), também deixaremos de exportar
esse subproduto de transformação local”, alerta um alto funcionário da Sonangol
Shipping. Com excepção dos petróleos, a maioria de empresas nacionais queixa-se
da falta de divisas para a importação de equipamentos. O economista e
presidente da Associação Angolana de Comércio e Exportação (AACE), Silva
Sikilile, afirma que, “mesmo no mobiliário, temos a necessidade de importar,
além de equipamentos, tecidos, linhas e napas”, e, como “o país não produz uma
agulha sequer, fica muito difícil concorrer com os estrangeiros”.
‘Dinamizar
o sector privado e promover o crescimento económico’ foi o lema da 35.a edição
da Filda que contou com cerca de 800 expositores de 22 países Além das críticas
à organização, a gestão da Filda levanta suspeitas à vice-presidente da
Confedera- ção Empresarial Angolana (CEA). Filomena Oliveira acusa-a de “falta
de transparência” na aplicação dos lucros. “Estamos a fazer uma feira por
fazer”, critica Filomena Oliveira, referindo-se ao volume financeiro que pode
ter sido movimentado nos cinco dias de exposição.
A
empresária questiona “esse ‘casamento’ entre o Governo e a empresa Arena
Direct”, na organização do evento, por não se saber ao certo onde começa a
responsabilidade dessa parceria e tem dúvidas quanto aos resultados. Só na
venda de bilhetes, a julgar pelo número de visitantes, na ordem de 35 mil, a
organização pode ter facturado à volta de 70 milhões de kwanzas, já que cada um
foi vendido a dois mil kwanzas.
No
entanto, a organização garante que foram comercializados 20 mil bilhetes e “não
35 mil porque o resto são convites”. “As minhas ambições são altas”, defende o
patrão da Arena Direct, gestora da Filda há três anos. A estes números,
juntam-se as receitas provenientes do aluguer de ‘stands’, cujos valores
oscilaram entre 150 mil e 450 mil kwanzas, e a taxa de montagem fixada entre 50
e 150 mil kwanzas para espaços entre 36 metros quadrados e mais de 72 metros
quadrados.
No entanto, as dúvidas adensam-se porque ninguém soube explicar, por exemplo, a razão por que a venda dos bilhetes não passou pela Administração Geral Tributária (AGT), para a dedução dos impostos. Ao VALOR, um funcionário da AGT, que preferiu “não ser identificado por causa do estatuto hierárquico”, foi taxativo: “Nada temos a ver com isso. É um problema da organização”. Em resposta, o director da Arena Direct garante que “todos os impostos foram pagos”, reiterando também que o Ministério da Economia não aloucou nenhum valor. “Os 530 milhões de kwanzas representam o orçamento desta edição da Filda, que resultam da venda de bilhetes e de ‘stands’”, resume Bruno Albernaz.
Filomena
Oliveira fala, entretanto, fala numa “certa disparidade de critérios” porque,
“geralmente, quando realizamos as feiras na Huíla, obrigatoriamente, os
cadernos têm sido levados à AGT para serem certificados”. Acreditando que o
Estado financiou o evento, a empresária lança outras dúvidas: “Não se sabe se o
dinheiro foi aplicado na melhoria das instalações que também são do Estado, ou
no pagamento aos palestrantes estrangeiros, quando estes vieram ao país
financiados pela União Europeia”.
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