Brasil cancela novo evento das Nações Unidas sobre mudanças climáticas
O Brasil cancelou um evento
das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que seria realizado em agosto na
cidade de Salvador, depois de ter desistido de acolher a cimeira climática da
ONU em 2019.
O Ministério do Meio
Ambiente informou na terça-feira que o evento foi concebido pela administração
anterior como parte da conferência COP25 da ONU, que o Brasil desistiu de
acolher no final do ano passado, alegando razões orçamentais.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chamou a
mudança climática de uma "questão secundária" e diz que quer se
concentrar em problemas do quotidiano, como o saneamento.
O
secretário para a sustentabilidade de Salvador, André Fraga, criticou o
cancelamento do 'workshop' sobre clima regional.
"É
muito mau para a imagem do Brasil", disse Fraga à agência de notícias
Associated Press. "É triste ver o Brasil perder a oportunidade de ser um
líder na luta mundial contra as mudanças climáticas".
O
mesmo responsável disse que os governos locais no Brasil continuarão a fazer
esforços contra as mudanças climáticas, mesmo que o Governo federal não os
apoie.
"Eles
dizem que se querem concentrar nas questões urbanas, mas qualquer um com o
mínimo de conhecimento sobre ciência e clima saberá que questões ambientais
urbanas, como saneamento, cursos de água limpos, recolha de lixo, têm tudo a
ver com a mudança climática", salientou.
Numa
recente entrevista de rádio, o ministro do Meio Ambiente disse que estava mais
interessado em lidar com os problemas que afetam os brasileiros, que não estão
preocupados com a "mudança climática em Paris" ou "reuniões em
Estocolmo".
"É
uma indústria", disse, referindo-se ao movimento ambientalista. "É
uma indústria de consultores, uma indústria de palestras, uma indústria de
seminários", afirmou..
Sob
a governação do Presidente Jair Bolsonaro, o Ministério do Meio Ambiente já não
tem autoridade sobre a agência de água e serviços florestais do Brasil e
eliminou três cargos de subsecretário, incluindo um dedicado às mudanças
climáticas.
A
08 de maio, sete ex-ministros do Meio Ambiente do Brasil alertaram que as
políticas socioambientais implementadas no país nos últimos 35 anos estão a ser
desmontadas pelo novo Governo, liderado por Jair Bolsonaro.
"A
governança socioambiental no Brasil está a ser desmontada em afronta à
Constituição. Estamos a assistir a uma série de ações, sem precedentes, que
esvaziam a capacidade de formulação e implementação de políticas públicas do
Ministério do Meio Ambiente", refere-se num documento divulgado pelos
antigos governantes que se reuniram em São Paulo.
O
documento foi assinado pelos ex-ministros Rubens Ricupero, Sarney Filho, José
Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira e Edson Duarte e
Gustavo Krause.
Todos
chefiaram a pasta do Meio Ambiente no Brasil em diferentes governos liderados
pelos antigos chefes de Estado José Sarney, Itamar Franco, Fernando Henrique
Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer.
Além
da divulgação do comunicado conjunto, os ex-ministros participaram numa reunião
inédita para formalizar a criação de um grupo que pretende abrir um canal de
diálogo junto do Congresso, do poder judiciário e do Governo brasileiro, para
travar o que designaram de retrocessos das políticas anunciadas pelo ministro
Ricardo Salles.
Ricardo
Salles, reagiu, através da rede social Twitter, à posição dos seus
antecessores, frisando que, "ao tratar de medidas que supostamente
colocariam em risco a imagem e credibilidade interacional do país, [os
ex-ministros] não indicaram nenhum aspeto concreto e específico que se sustente
e que possa ser imputado a este Governo ou à presente gestão do Meio
Ambiente".
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