Quanto é que vai subir o preço do petróleo?


A OPEP voltou à política de cortes, mas a retirada de 700 mil barris do mercado não chegará para que o petróleo ultrapasse, no máximo, a barreira dos USD 55.
O preço do petróleo teve após o anúncio da OPEP, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, uma subida relâmpago, valorizando quase 6% num único dia, o que corresponde à recuperação mais rápida dos últimos anos.O preço do barril de Brent, referência das ramas angolanas, acercou-se dos USD 50.
Mas nos dias seguintes o preço praticamente estabilizou, chegando mesmo a recuar, acabando por se fixar, no fecho do mercado, Sexta-feira, um pouco acima de USD 50 (USD 50,19, com um ganho de o,76% no mercado de futuros de Londres. Qual o impacto previsível do anúncio da OPEP, que retomou a sua política de fixação de um limite à produção dos seus membros ao fim de oito anos, a curto e médio prazo. Tudo depende do que acontecerá daqui a dois meses, dia 30 de Novembro, quando a organização realizar em Viena de Áustria, onde tem a sua sede, a sua reunião ordinária.
Até lá um comité irá preparar uma proposta de acordo formal que será sujeito à apreciação dos países membros. Uma tarefa difícil a do comité… Tudo o que se sabe sobre o inesperado acordo, anunciado após um encontro informal dos membros da organização, que participaram em Argel num fórum internacional sobre energia, é que há um entendimento quanto à fixação de um tecto entre 32,5 milhões e 33 milhões de barris por dia à produção do conjunto dos seus membros, menos 750 mil barris que a produção actual. Até ao final de Novembro haverá muitas conversações e muita pressão negocial, não só entre os membros da organização, como entre estes e os grandes produtores que não a integram, designadamente a Rússia, actualmente o maior produtor mundial.
Os russos estarão disponíveis para um acordo, mas procurarão assegurar a melhor posição. Em plena reunião da OPEP, Moscovo divulgou números que apontam para que tenha atingido a produção recorde em Agosto de mais de 11 milhões de barris por dia. O que foi uma forma de pressionar a Arábia Saudita, como quem diz ‘se vocês se ficarem pela estratégia da fuga em frente através do aumento incessante da produção nós estamos na corrida’. E os russos sabem ao ponto a que está debilitada a economia saudita, a apresentar o maior défice fiscal entre os 20 países mais ricos do mundo (13,5% do respectivo PIB este ano) e a cancelar gastos sociais e investimentos de biliões de dólares.
Previsões
Após a divulgação, Quarta-feira, dia 28 de Setembro, da existência de um acordo na OPEP, os analistas arriscaram as suas estimativas para a evolução do preço do crude. É o caso do grupo financeiro Goldman Sachs, que antecipa que a concretização do acordo, no primeiro semestre de 2017, irá fazer subir o preço do barril entre sete e dez dólares. A previsão do Citigroup é de que o preço do barril de petróleo andará entre USD 45 e USD 50 no final deste ano, com o Brent a subir para um preço médio de USD 60 em 2017.
É provável que o barril de petróleo se fixe no próximo ano num valor em torno de USD 60. É uma previsão que, contudo, depende de muitos e complexos factores. Estima-se existir um excesso de 2 milhões de barris diários no mercado. Ora, a OPEP dispõe-se a retirar entre 700 e 750 mil, ou seja, enxugar menos de 40% da oferta em sobra. A eficácia do acordo, se vier de facto a fixar-se no corte anunciado, dependerá do apoio de outros grandes produtores, com a Rússia à cabeça.
A reacção dos produtores fora da OPEP será decisiva para que o limite de 32,5 milhões de barris fixado à produção da organização comece a surtir efeitos no início do próximo ano, ou que um tecto de 33 milhões de barris produza resultados a partir do primeiro semestre de 2017, como calcula o Morgan Stanley, citado pela Bloomberg. O excesso de oferta mantém-se e deverá registar novos contributos, como é o caso do Cazaquistão, onde vai arrancar o mais caro projecto petrolífero de sempre (USD 50 mil milhões), o projecto de Kashagan. Mas há sobretudo que ter em conta a reacção dos produtores de xisto norte-americanos, que a Arábia Saudita tinha na mira e que conseguiu, em parte mas não na totalidade, liquidar.
Quanto tempo demorarão a bombar novamente mais óleo, animados por preços mais altos? Imagina-se que demorarão alguns meses, sabendo-se que existem USD 100 mil milhões disponíveis para investir na actividade. E a produção de xisto norteamericana, a principal responsável pela queda vertiginosa do preço do petróleo, seguramente não aderirá a qualquer acordo de contenção da oferta. Os Estados Unidos, um dos três maiores produtores mundiais, ficará sempre de fora.
Como é improvável que o Canadá adira a qualquer acordo deste tipo. O preço do petróleo irá subir, só não se sabe em quanto, permitindo, em todo o caso e pelo caminho, que o preço médio deste ano fique acima do preço de referência orçamental, aquele em que se baseiam as estimativas das importantes receitas petrolíferas do país, criando uma maior folga do ponto de vista fiscal e também aliviando a pressão sobre as divisas disponíveis. Foi dado um passo decisivo. A Arábia Saudita entendeu que a alternativa era o caos. E era, olhando para a tendência de queda do preço do petróleo nos dois últimos meses. A anterior estratégia saudita não resultou. Resultará o regresso à gestão da oferta pela organização? Ainda é muito cedo para ‘deitar foguetes’.

Fonte: OPAÍS

+ informação encontre no jornal impresso já nas bancas!

Sem comentários:

Com tecnologia do Blogger.