Preços dispararam nos mercados de Luanda com restrições da pandemia
As restrições de mobilidade impostas pelas autoridades, devido à covid-19, e “más políticas económicas” são apontadas por vendedores e clientes dos mercados de Luanda como as principais razões da “subida vertiginosa” dos produtos da cesta básica, no último ano.
Vendedores e consumidores afirmam que, em um ano de pandemia, os preços dos principais produtos de consumo, sobretudo os da cesta básica, dispararam mais de 100%, “rogam” pelo fim da pandemia e manifestam nostalgia do tempo pré-covid-19.
As vendedoras contam que desde que foi notificado o primeiro caso de covid-19 em Angola, a 21 de março de 2020, os preços registaram sempre um percurso ascendente e as restrições da mobilidade de pessoas e viaturas pelo interior do país e vice-versa agravou a sua condição, reduzindo, por isso, os seus rendimentos.
“As vendas estão um pouco difíceis, o negócio não anda. No meu caso, há dias que regresso a casa tal como saio”, contou à Lusa Maria da Conceição, vendedora de utensílios domésticos, copos, pratos, tigelas, no mercado dos Kwanzas.
Três chávenas, que antes da pandemia eram vendidas ao preço de 1.000 kwanzas (1,3 euros) são hoje comercializadas a 1.500 kwanzas (2 euros) e Maria da Conceição admite que a covid-19 teve implicação direta nos atuais preços.
A situação piorou com a ausência de clientes, muitos dos quais “retidos” no interior do país.
“Porque muitas vezes os compradores vinham de outras províncias. Agora, como as viagens estão limitadas as coisas estão paradas. Por dia, às vezes, tenho apenas um cliente e há dias que nem sequer clientes tenho”, lamentou.
Na bancada de Madalena Manuel António, também no mercado dos Kwanzas, município do Cazenga, em Luanda, um litro de óleo está a ser comercializado entre 1.300 kwanzas (1,7 euros) e 1.500 kwanzas (2 euros), o dobro do preço anterior, enquanto para o quilograma de feijão o preço “triplicou”.
“Antes, o litro de óleo era 500 kwanzas [0,6 euros] e 600 kwanzas [0,8 euros], agora está 1.500 kwanzas [2 euros]. O quilo de arroz era 250 kwanzas [0,33 euros] e agora está a 550 kwanzas [0,7 euros], o feijão era 350 kwanzas [0,46 euros] e agora está a 1.200 kwanzas [1,6 euros]”, disse.
Esta vendedora reconhece que os preços “aumentaram muito” e, em consequência, reduziram-se também os clientes, que reclamam dos preços elevados e do "fraco poder" de compra que lhes permite os seus salários.
“Nesta bancada posso vender diariamente um valor de até 15.000 kwanzas [20 euros], mas insuficiente para repor o negócio, porque a procura é baixa”, lamentou.
Grande parte da carne abatida que é comercializada no mercado dos Kwanzas provém do interior de Angola.
As vendedoras apontaram também a “escassez” do produto devido às restrições da mobilidade, a nível de viaturas e pessoas, já que a capital angolana está sob cerca sanitária imposta pelas autoridades, desde maio passado, visando travar a propagação da covid-19.
“O nosso negócio [animais vivos] vem do interior do país, dependemos dos viajantes, mas poucos carros agora estão a circular e, por isso, os preços estão altos”, disse à Lusa Judite António, comerciante há cinco anos.
Segundo a vendedora, no seu último ano de atividade comercial, na vigência da pandemia, as vendas baixaram consideravelmente, por falta de clientes. Em contrapartida, os preços de cada pedaço de carne aumentaram.
“Vendemos os pedaços entre 1.000 kwanzas [1,3 euros] e 1.500 kwanzas [2 euros], antes da pandemia vendíamos o pedaço a 500 kwanzas [0,6 euros], a miudeza 200 kwanzas [0,2 euros], mas agora estamos a vender 500 kwanzas [0,6 euros]”, notou.
Os fornecedores de bebidas espirituosas alteraram os preços e os retalhistas, em busca do lucro, também subiram os preços no mercado, conforme fez saber a vendedora Rute Dionísia, lamentando os “males da pandemia” no seu ofício.
“Bastante agastado” com os atuais preços praticados nos distintos mercados de Luanda está o reformado Beto Serrote, 67 anos, considerando que os preços subiram na razão de 300%, sobretudo devido ao que classificou como “más políticas económicas do Governo”.
“Sempre gastei menos, mas agora não, agora gasto mais do que o meu salário e as vezes até passo fome. Era bom que se revisse a política económica do país para que os preços baixassem”, defendeu.
Para este consumidor, Angola “precisa de dirigentes sérios” de forma a inverterem a atual situação: “Antes da pandemia até compensava, mas depois as coisas começaram a subir vertiginosamente”, atirou.
No ano passado, a inflação aumentou para 22,3% face aos 17,1% registados em 2019, segundo a consultora NKC African Economics que antevê uma subida dos preços de 22,4% este ano, desagravando para 14,5% em 2022.
Angola registava, até esta quinta-feira, um total de 21.558 casos de infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, 522 mortes associadas à covid-19 e um total de 20.032 recuperados.
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