Catalunha: Tribunais a solucionar questão política "só pode sair mal"
O filósofo Daniel Innerarity considera que entregar
aos tribunais um problema político só poderia ter um desfecho infeliz, como
aconteceu na Catalunha, acreditando que uma solução para o conflito passará por
um dos lados abdicar de parte das exigências.
Em entrevista à Lusa, a propósito do lançamento em Portugal do
livro 'Política para Perplexos' (Porto Editora), o professor catedrático da
Universidade do País Basco, que chegou a ser uma possibilidade de intermediário
entre o Governo de Madrid e a liderança catalã, disse que a condenação pelo
Supremo Tribunal dos principais dirigentes políticos envolvidos na tentativa de
independência da Catalunha foi uma "má sentença, desde o ponto de vista
jurídico", mas acima de tudo revelou que, "quando há um problema
político, mesmo num Estado de Direito onde há que respeitar as normas, confiar
aos tribunais a resolução do problema só pode sair mal".
"Há uma grande tentação de reduzir este problema
a um problema de respeito pela legalidade e ordem pública. Vamos ver, nestes
dias, como se vai transformar num problema de ordem pública. Nem antes da
sentença nem depois da sentença se deu um tratamento político a isto",
afirmou Innerarity.
Para
o filósofo político basco, nas próximas semanas ou meses, vai ser atravessado
"um túnel sem luz, muito desagradável, no qual a única coisa que se pode
fazer é 'desescalar', arrefecer a
resposta, os discursos".
"Mas
depois de passar este período, haveria que abordar isto com um princípio de que
daqui só se sai se alguém renunciar a parte das suas aspirações e o fizer num
esquema de reciprocidade. Ou seja, só se uma pessoa renunciar a parte das suas
aspirações pode exigir semelhante do outro", considerou o diretor do
Instituto de Governação Democrática, em San Sebastián.
Na
opinião de Innerarity, tal renúncia
passa "por um sacrifício que consiste em dizer às tuas próprias pessoas
coisas que as tuas próprias pessoas não estão habituadas a ouvir", o que é
dificultado por um momento em que as lideranças existentes foram desenvolvidas "sobre
a base da confrontação".
"Efetuar essa
mudança não é fácil e em momentos de aquecimento global da política é
especialmente difícil", afirmou o filósofo.
Na
segunda-feira, o Supremo Tribunal espanhol condenou os principais dirigentes
políticos envolvidos na tentativa de independência da Catalunha a penas que vão
até um máximo de 13 anos de prisão, desencadeando movimentos de protesto de
grupos de independentistas em
todo o território da comunidade autónoma espanhola mais rica.
Barcelona
tornou-se, desde a noite de segunda-feira, cenário de confrontos entre polícias
e manifestantes, que construíram barricadas, queimaram mobiliário urbano e
pneus, fizeram fogueiras e atiraram pedras e petardos contra as autoridades.
Doze
jornalistas foram agredidos pela polícia, só na segunda-feira, o que levou a
Federação Europeia de Jornalistas e a Federação Internacional de Jornalistas a
condenar a violência contra os profissionais e a exigir um inquérito aos
acontecimentos.
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