“Até já, depois falamos”. As últimas palavras conhecidas de Chinho
O ex-futebolista João dos Santos de Almeida, conhecido
nas lides desportivas como "Chinho", de 36 anos, foi assassinado,
segunda-feira última, à luz do dia, com dois tiros na parte esquerda da coluna.
O incidente deu-se a sensivelmente 200 metros de uma esquadra móvel da Polícia
Nacional, vulgarmente chamada "roulotte, que se encontrava completamente
desguarnecida no momento, apurou o Jornal de Angola, no dia do incidente.
Moradores da zona disseram ser normal a esquadra ficar abandonada.
No dia seguinte, ao voltar ao terreno para recolher
mais informações, a equipa de reportagem desse jornal encontrou,
surpreendentemente, dois agentes na referida esquadra, que aparentavam ter
entre 45 a 50 anos. Disseram ter trabalhado na véspera do assassinato do
jogador, tendo largado às 8h00 do dia do incidente, sem a renda chegar.
Questionados se é normal abandonar o posto sem quem os substitua, a du-pla de
agentes usou o silêncio como resposta. Testemunhas no local contaram que Chinho
foi baleado por volta das 9h00, na rua que dá acesso às bombas de combustível
da Pumangol, no bairro Sapu II, distrito Urbano da Cidade Universitária, em
Luanda. Após os disparos, o jogador ainda conseguiu dirigir a viatura até uma
distância de aproximadamente 100 metros, tendo a mesma ficado imobilizada até
ser removida.
Os
resultados da autópsia, fornecidos pela família do jogador, avançam que ele foi
alvejado no braço esquerdo, tendo as balas atravessado e perfurado o coração e
o pulmão. "Os projécteis ficaram encravados no seu corpo", salientou
um membro da família. Santos Pedro, uma das testemunhas no local, contou que
"Chinho" estava a ser seguido, sem dar conta, por dois jovens que se
faziam transportar numa motorizada. Depois de o ultrapassarem, ficaram à espera
dele a uma distância de aproximadamente 30 metros. Quando ele ia se aproximando,
prosseguiu a nossa fonte, um dos jovens, já com uma pistola na mão, colocou-se
na direcção do carro, pedindo-lhe para parar. Segundo o relato, o jogador não
atendeu ao pedido e acelerou o carro. Foi então que o jovem efectuou os dois
disparos mortais contra o jogador.
"Antes
de subir na mota, onde já estava o comparsa, ele ainda fez mais um tiro no ar,
para afugentar algumas pessoas que já tentavam se aproximar do local",
realçou. Angelina Job, outra testemunha, disse que depois da viatura em que
seguia o jogador ficar imobilizada, várias pessoas que assistiram à cena
tentaram socorrê-lo, mas fo-ram desaconselhadas por outras, alegando que o
deviam deixar mesmo aí até que o Serviço de Investigação Criminal (SIC)
chegasse. “Quando nos aproximamos da viatura, ele ainda estava em vida",
contou a cidadã, tendo acrescentado que viu o jogador a soltar os últimos
suspiros. A mulher acrescentou que após a confirmação da morte, aproximadamente
por volta das 10h00, o corpo só foi removido às 14h30.
"Até
já ..."
Chinho perdeu a vida no dia de aniversário da filha. Antes, esteve, por volta das 8h00, na esplanada que geria naquela zona. No local, segundo um dos funcionários, não ficou por muito tempo, tendo permanecido apenas para deixar algumas orientações. “À semelhança de outros dias, ele estava bem disposto, tendo inclusive, como era de hábito, contado algumas anedotas, que nos provocaram muitas gargalhadas", recordou um dos funcionários. Disse que Chinho estava muito feliz com a viatura que comprara há três semanas. "Alegre, ainda mostrou-nos algumas funcionalidades do carro", aclarou.
O
mesmo trabalhador ressaltou que, antes de abandonar o espaço, que dista dois
quilómetros do sítio onde foi baleado, o ex-futebolista, que tinha o pedido de
noivado marcado para o dia 27 deste mês, fez o salário da funcionária de
limpeza, pagou uma dívida e ofereceu dinheiro ao segurança do estabelecimento,
para apanhar o táxi. “Até já, depois falamos", foram as últimas palavras
por ele proferidas, ao deixar o espaço. O funcionário conta que não passaram 20
minutos, quando recebeu a ligação de um tio a avisar que o chefe tinha sido
assassinado na rua da Pumangol. "Só acreditei depois de o ver. Ele não
merecia tamanha barbaridade. Era uma boa pessoa", lamentou, aos prantos.
Adilson Jime, dono do espaço que o Chinho geria, contou que um dia antes do
incidente falou demoradamente com ele por telefone. Ressaltou que o malogra-do
não passava a ideia de alguém que estivesse triste com alguma situação, mas
achou estranho o facto de o jogador lhe ter feito chegar o relatório das
actividades por mensagem, um dia antes de ser assassinado. “Normalmente, ele
não mandava o relatório por mensagem", acentuou.
Azevedo Francisco, tio materno do Chinho, e embaixador de Angola na Zâmbia, disse que a família não tem dúvida de que o jogador foi assassinado, tendo, por isso, apelado a quem de direito que esclareça o crime e que puna exemplarmente o autor. Com a voz embargada de emoção, o embaixador disse que a família perdeu a sua coqueluche. “Perdemos um jovem promissor, que ainda tinha muito a dar para o país", frisou. Maria Rosa de Almeida, mãe do Chinho, que sofre de hipertensão, tendo feito já um AVC, disse ter falado com o filho pessoalmente na quinta-feira passada, numa das visitas que efectuou à sua casa, para lhe deixar ficar uns valores que necessitava. Completamente desolada, explicou que conversou demoradamente com o filho, que em momento algum mostrou estar a viver algum problema.
No
domingo, Chinho voltou a ligar para a mãe, apenas para saber se estava a passar
bem o dia. De seguida, proferiu as seguintes palavras: “minha mãe, eu amo-te
muito”. Wiliam de Almeida, 19 anos, primeiro filho do jogador, ficou a saber da
morte do pai da pior maneira: numa legenda que passava no rodapé do programa
"Giro Desportivo", da TV Zimbo.
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