Marceneiros dizem-se ‘valorizados’ com a crise
Tem sido comum a compra de mobiliário produzido localmente, desde que se instaurou a crise, pelo que os marceneiros alegam que estão a ser mais valorizados. Por outro lado, a crise não trouxe só aspectos positivos, pois reclamam da subida do preço da matéria- prima.
Produtos como cama de casal, cómodas, guardafatos e portas são os que com maior frequência têm sido comprados, nalgumas marcenarias e, noutras, encomendados, em caso de produção em grande escala. Apesar de alguns profissionais acreditarem que a crise trouxe vários problemas ao seu sector, muitos acreditam que tenha aberto a mente dos consumidores de formas a darem mais crédito àquilo que se produz localmente.
Numa das mais antigas e conhecidas marcenarias, localizada no Bairro da Madeira, imediações do Hipermercado Jumbo, trabalha Moisés Vicente Paulo, marceneiro há 15 anos, que aponta o final de cada mês como o período em que têm o registo de muitos clientes à procura dos seus produtos. A crise não os afastou, por acreditar que os seus produtos são duradouros e de grande qualidade.
As cómodas e os beliches estão a ser comercializados com mais frequência e junto deste processo de comercialização tornou-se comum os clientes fazerem encomendas de vários tipos de produtos. “Com a crise, as pessoas passaram a valorizar mais os produtos nacionais e a concorrência chinesa, hoje, já não nos preocupa, também porque o tipo de material que os mesmos usam é de menos qualidade em relação ao nosso produto”, disse.
Moisés disse que trabalha com madeira natural e aponta o material dos chineses como sendo de palha seca, facto que deixa os produtores nacionais em vantagem competitiva. Produto feito com madeira natural, diz o especialista, tem mais durabilidade e, por isso, “nunca tivemos reclamações dos clientes”. Reconhece que está um pouco difícil conseguir o material, principalmente os parafusos, mas tentam ajeitar-se de formas a não deixarem o cliente pendurado. Lukoki António, que trabalha há mais tempo (20 anos), também vê a questão da compra de matéria-prima como a que mais dificuldade lhes tem causado. A situação não está boa, disse, o preço da madeira subiu, fruto também do aumento da procura por mobílias feitas em Angola. Antes compravam, no Kicolo, uma tábua de madeira a 3000Kz, agora estão a comprar 15.000Kz.
Valorizados também pelos preços
Apesar da estrondosa subida do preço da matéria-prima daquela que tem sido a sua principal fonte de sustento há vinte anos, tanto Lukoki, como os restantes dos seus colegas no referido bairro, optaram por não subir muito o preço dos mobiliários, facto que tem feito com que sejam cada vez mais solicitados. “Muitos quando vêm ainda reclamam dos preços, uns chegam a nos comparar com os chineses, ou a ameaçar que vão comprar coisas chinesas, mas depois dão-se conta da qualidade do produto e de como custa menos comprar o nacional em relação ao estrangeiro”, defendeu.
Dependendo dos dias, o número de vendas estima-se em dois produtos por dia, isso sem contar o final de cada mês, visto que é a altura que mais vendem. O produto mais caro é o guarda-fatos, que custa 150.000Kz, Uma cómoda, 55.000Kz, cama com o mesmo valor, e beliche 60.000Kz, e todos sofrem descontos. Chama a atenção ao Estado de formas a intensificar a fiscalização porque tem recebido reclamações dos fornecedores que muitos chineses estão a explorar madeira para fazerem frente aos produtores angolanos, facto que periga o futuro da sua classe.
“Somos os filhos deste país, devemos ser protegidos pelo Estado. Temos tanta vontade de ensinar aos jovens esta profissão, mas mesmo aqui temos tido muitos problemas com os fiscais”, reclamou Lukoki. O conhecido espaço no Bairro da Madeira tem sido apenas para expor os seus produtos que são fabricados no Bairro do Kimbango Sapú. Ultimamente a “batalha” tem sido com os ficais que muitas vezes prendem os seus produtos com a alegação de falta de legalização do espaço. Sentem-se prejudicados com isso.
“Agora reconhecem o valor da mobília nacional”
Eduardo Neves, marceneiro há 10 anos, tem a sua oficina no Bairro do Talatona, adoraria que o reconhecimento do seu trabalho e/ou a compra de produtos mobiliários nacionais não se devesse ao aparecimento da crise, apesar de ser benéfico para si. Com isto, a procura é alta e muitos não conseguem dar resposta, pois que, no seu caso, a tábua que comprava a 7.000Kz, compra agora a 17.000Kz, a lata de verniz que custava 2.000Kz, agora, tem de desembolsar 5.000Kz.
“Para as crianças em casa não ficarem sem nada, vendemos mesmo assim, e agora com mais procura, mas a grande dificuldade continua a estar nos materiais”. O feedback dos clientes tem sido positivo, sustentado com as alegações de que os produtos estrangeiros serão substituídos pelos nacionais. Aos poucos o mercado está a ser conquistado e acredita que nos próximos tempos, os chineses – seus principais concorrentes – serão ultrapassados. A cama na oficina de Eduardo custa 40.000Kz, guarda-fatos 100.000Kz e a cómoda 45.000Kz.
No bairro do Dangereaux, é referência a marcenaria de Kabá Alberto, que muitas vezes tem sido solicitada principalmente, para encomendas de portas e janelas, visto que muitas residências ainda estão em construção e constantes remodelações. “Apesar da crise, estamos a lutar de formas a manter o negócio, ainda mais nesta altura que a compra destes produtos aumentou.
Os chineses não estão a aguentar, também estão a vender as portas muito caras, por isso as pessoas estão a nos procurar. A porta vendo a 65.000Kz e diariamente tenho encomenda de 3 a 4 portas”, sublinhou. Regista uma certa afluência de clientes que estão a substituir as portas de alumínio com as de madeira, visto que o primeiro tipo está mais caro, agora com a crise, e também “deram conta que a porta de madeira chega a ser melhor e mais bonita para a casa, quando bem envernizada ou bem pintada”, defende, Kabá, que descansava enquanto falava com a nossa equipa.
Fonte: OPAÍS
Imagem: Carlos Augusto Reprodução
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