Saiba por que é perigoso tomar vários medicamentos ao mesmo tempo


Combinações que parecem inofensivas podem prejudicar a saúde, um fenómeno tem se tornado cada vez mais comum entre os idosos: a chamada "polifarmácia".

— O cardiologista recomenda um bom remédio para o coração com base em evidências. O endocrinologista faz a mesma coisa para os ossos — conta o médico Caleb Alexander, um dos diretores do Centro para a Segurança e Efetividade de Medicamentos John Hopkins, nos Estados Unidos.
E digamos que o paciente use remédios para refluxo que não precisam de receita e tome uma aspirina diariamente ou um suplemento de zinco e cápsulas de óleo de peixe.
— Rapidamente, você tem um senhor de 82 anos tomando 14 remédios — diz Alexander (exagerando, mas não muito).
Geriatras e pesquisadores há anos alertam sobre os perigos da polifarmácia, normalmente definida como a ingestão de cinco ou mais remédios ao mesmo tempo. Ainda assim, esse fenômeno continua a aumentar em todas as faixas etárias, atingindo níveis preocupantes entre os idosos.
Provavelmente, muitos fatores contribuíram para esse aumento, como as diretrizes de tratamento que pedem um maior uso de estatinas, um medicamento para controle do colesterol.
Mas os idosos não tomam apenas remédios prescritos. Um artigo publicado na revista científica Jama Internal Medicine, usando um estudo nacional longitudinal, realizado nos Estados Unidos, com pessoas de 62 a 85 anos, pode ter revelado um quadro mais completo: mais de um terço dos participantes estava tomando pelo menos cinco medicamentos prescritos e quase dois terços usavam suplementos, incluindo ervas e vitaminas. Cerca de 40% ingeriam remédios que não precisam de receita.
Pessoas mais velhas são mais vulneráveis
Nem todos correm perigo por causa da polifarmácia, claro, mas alguns desses produtos, mesmo aqueles que parecem naturais e estão disponíveis nas lojas de produtos saudáveis, interagem com outros e podem causar efeitos colaterais perigosos.
Com que frequência isso acontece? Os pesquisadores do estudo publicado no Jama, depois de analisar os remédios e os suplementos tomados, calcularam que, em 2005 e 2006, mais de 8% dos idosos estavam correndo risco de sofrer uma interação medicamentosa importante. Cinco anos depois, a proporção excedia os 15%.
— Não estamos prestando atenção às interações e à segurança da ingestão de vários remédios. Esse é um grande problema de saúde pública — afirma Dima Qato, principal autora do artigo, farmacêutica e epidemiologista da Universidade de Illinois.
Ela ficou chocada ao descobrir, por exemplo, que o uso de suplementos de óleo de peixe com ômega 3 havia quadruplicado em cinco anos. Sua pesquisa sugere que quase um em cada cinco idosos toma essas cápsulas hoje. Os usuários acreditam que o óleo de peixe é bom para o coração, mas Dima explica que as cápsulas ainda não foram regulamentadas, nem possuem evidência de efetividade, e podem causar sangramentos em pacientes que tomam alguns tipos de anticoagulantes.
Apesar de as interações medicamentosas poderem acontecer em qualquer faixa etária, as pessoas mais velhas são mais vulneráveis, explica Michael A. Steinman, geriatra da Universidade da Califórnia, em São Francisco, que escreveu um comentário que acompanha o artigo. A maioria possui várias doenças crônicas, então toma mais medicamentos, o que aumenta o risco de interações perigosas.
As consequências também podem ser mais ameaçadoras. Vamos dizer que um remédio deixe o paciente idoso tonto.
— Eles estão mais propensos a cair, porque não têm as mesmas reservas de equilíbrio e força de um jovem ou de alguém na meia idade. E se caem porque estão tontos, têm mais propensão a se machucar — afirma Steinman.
Parece inofensivo, mas não é
Outro estudo recente do Jama descobriu que mais de 42% dos adultos não contam a seus médicos sobre os complementos que usam mais comumente ou remédios alternativos. Um quarto desses aposta mais em ervas e suplementos.
Normalmente isso acontece porque os médicos não perguntam e os pacientes não acham que eles precisam saber — em alguns casos, os profissionais já tinham desencorajado o uso de terapias alternativas ou os pacientes acham que eles o fariam.
Muitas vezes, os pacientes não sabem que uma aspirina por dia, o remédio para gastrite Prilosec OTC ou o óleo de peixe podem interagir com outros medicamentos. Ou ficam confusos sobre o que estão realmente tomando.
Steinman recorda que, certa vez, pediu a um paciente para trazer todos os remédios que estava tomando para uma reavaliação. Ele descobriu que o homem acumulava quatro ou cinco vidros do mesmo medicamento sem perceber, e ingeria várias vezes a dose recomendada.
Em última análise, a melhor maneira de reduzir a polifarmácia é reformular a abordagem fragmentada da saúde.
— O sistema não está voltado para olhar a pessoa como um todo, para ver como os padrões se encaixam — afirma Steinman.
Enquanto isso, porém, os pacientes e suas famílias podem pedir pareceres aos médicos, incluindo todos os suplementos, e discutir se devem continuar ou mudar suas rotinas. Os farmacêuticos, muitas vezes subutilizados como fonte de informação, podem ajudar a coordenar os medicamentos.
— Gastamos muito dinheiro e esforço tentando descobrir quando começar a tomar um remédio e surpreendentemente pouco para saber quando parar — argumenta Alexander.
Fique atento
Veja algumas combinações comuns que apareceram no estudo e podem causar problemas:
Aspirina e anticoagulante clopidogrel (Plavix): dois diluentes do sangue que juntos aumentam o risco de hemorragias com o uso prolongado. 
Aspirina e naproxen (Aleve): remédios sem necessidade de prescrição que, quando combinados, podem causar sangramentos, ulceração ou perfuração do estômago.

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